Qual a origem das cartas do tarot e da leitura do tarot?
As cartas do tarot apareceram pela primeira vez no Norte da Itália, não muitos anos após a introdução das cartas de baralho comum na Europa, em cerca de 1375.
De fato, a maioria das cartas de um tarot tradicional, as 56 cartas conhecidas como o arcanos menores, não eram nada além de um conjunto de cartas de jogar.
A origem das cartas dos arcanos menores do tarot é incerta.
Alguns historiadores atribuem sua origem à China enquanto outra linha de estudiosos remetem essa origem ao mundo Árabe.
De certo mesmo é que a consolidação do que conhecemos hoje como baralho de tarot ocorrerá a partir do acréscimo de mais uma carta a qual apresenta um cavaleiro em cada respectivo naipe nos arcanos menores e ainda, com a adição das 22 cartas ostentando várias imagens e de caráter bastante alegórico.
Estes são os arcanos principais ou trunfos maiores.
Não, o tarot não surgiu no Egito!
Algumas características de nossa cultura nos tornou um povo muito místico, supersticioso, muitas vezes ingênuos e, em alguma medida, talvez até mesmo meio preguiçosos (como Mario de Andrade tão bem retratou em Macunaíma), o que acaba por levar a uma passividade em relação aos estudos e investigações mais sérias, consequentemente, permitindo que se acredite em informações desprovidas de qualquer fundamento).
Pois bem, embora a iconografia das cartas remetam a símbolos inerentes à cultura ocidental, existe ainda muita contradição no meio “esotérico” Brasileiro, e isso não se dá por ausência de informação, pois temos muita literatura não só no exterior ( Banzhaf, Green, Kaplan, Couste, Wirth, Jodorowsky, etc), assim como, muitos pesquisadores brasileiros engajados (Nei Naiff, Pellegrini, Gopalla, Spacassassi, Riemma, Heyss, Lepletier, entre outros tantos).
E apesar do farto material e documentações que apontam as verdadeira origens do tarot, ainda existe muita fantasia a respeito da origem das cartas, com atribuições do surgimento do tarot ao Egito, “atlântida”, Índia, aos ciganos e tudo o mais que a fantasia possa criar, mesmo havendo pesquisadores sérios e estudos conclusivos (tanto no Brasil como no exterior) que já provaram que a origem do tarot é de fato europeia e medieval.
Isso é muito ruim, pois esse excesso de fantasia gera descrédito e desconfiança no leigo que entra em contato pela primeira vez com o universo do tarot, logo associando o tarólogo a uma imagem estereotipada, com roupas coloridas, uma mesa cheia de santos, cristais, incensos, sinos, velas, copos de água, ou seja, uma área de estudos tão rica e profunda que é o tarot acaba sendo associada ao charlatanismo.
A título de curiosidade e maiores esclarecimentos, sugiro o pequeno artigo onde procuro resumir as origens históricas das cartas do tarot: Tarot – Origens Históricas
Verdadeira origem das cartas do tarot
Sua origem é europeia e ocorreu no período mais rico e criativo da cultura ocidental: a idade média.
Período esse tantas vezes injustiçado mas que tem em si as bases de toda a civilização ocidental.
Graças a Igreja Católica, toda a herança cultural Grega e Romana, além da evidente cultura judaica e Cristã foram preservadas e desenvolvidas.
E foi por meio dos seus pensadores e filósofos que todo o refinamento da antiguidade clássica e posterior aprimoramento geraram um processo educacional ainda não superado, tendo por base o Trivium, Quadrivium e ainda, contemplando também a formação do homem medieval elementos éticos, morais, religiosos entre tantos valores atualmente perdidos, principalmente pelas gerações mais novas.
O curioso é observar que todos esses elementos estão elencados na iconografia das cartas do tarot.
E ainda, como criticar um período que nos legou uma arquitetura que podemos apreciar em muitos pontos da Europa e mesmo no Brasil, com suas catedrais, monastérios, castelos, além da riqueza na literatura, da música e das artes em geral?
Pois bem, as cartas do tarot carregam em seu simbolismo toda a herança cultural medieval, seus valores, sua cosmogonia, o que por si só seria evidente em se tratando do ambiente em que surgiu, não dando portanto a menor margem de possibilidade de delegar a origem do tarot a outras culturas.
Nas cartas dos arcanos maiores do tarot há uma coleção de imagens ricas em símbolos e significados, variando desde figuras com representação humana como O Bobo, O Mago, O Hermitão, acrescidos ainda das poderosas personagens do mundo medieval, como O Imperador, a Imperatriz, O Papa, etc.
Além disso, compõe também esse conjunto de cartas as imagens alegóricas das virtudes cultivadas nesse período que são A Força, A Justiça e A Temperança, apresentando também, as grandes forças da vida, como A Roda da Fortuna, A Morte e O Diabo, finalmente chegando as imagens cosmológicas como O Sol, A Lua e O juízo final.
Tarô moderno
O moderno interesse no tarot como uma ferramenta de estudo metafísico deriva do século 18, através dos movimentos ocultistas na França.
Antoine Court de Gebelin encontrou um baralho de cartas de tarot e deduziu que os trunfos seriam uma chave oculta que levariam aos segredos religiosos da antiguidade. Sua especulação gerou um grande interesse em “descobrir” (melhor dizendo, “inventar”) os significados místicos das cartas.
Os ocultistas também são responsáveis por um grande número erros, frequentemente repetidos nos mitos que rondam as origens do tarot: que as cartas foram trazidas para a Europa pelos ciganos, que foram inventados no Egito antigo, e assim por diante.
No início do século 20, o jogo do tarot e suas cartas foram um foco principal para algumas sociedades ocultas, como a Ordem Hermética da Golden Dawn na Inglaterra.
Os ocultistas redesenharam ao seu modo os arcanos para enfatizar as suas próprias interpretações das cartas que eles relacionaram com outras antigas tradições como a Cabala, a astrologia e a alquimia.
Aparentemente, a utilização generalizada do tarot ocorreu a partir deste período. Há evidências que sugerem que eles foram mal (ou nunca) usadas para qualquer coisa além de jogos de azar antes do século 19.
Dois membros da Golden Dawn tiveram uma grande influência sobre o desenvolvimento do tarot moderno. A.E. Waite, um místico cristão, publicou seu próprio jogo em 1909. As cartas foram desenhadas pela artista Pamela Coleman Smith. Os Arcanos maiores, naturalmente, são ricos em simbolismo oculto. O aspecto mais inovador do seu baralho, no entanto, são os arcanos menores, que (em vez de cartas de jogar dos baralhos comuns) mostram várias cenas que parecem sugerir histórias. Com esta mudança, cada carta no baralho faz uma sugestão psicológica imediata na mente do espectador.
Num certo sentido, todos os jogos da atualidade trazem referências dessas cartas.
Esta apresentação se tornou muito popular, e é ainda amplamente difundida, onde a maioria dos livros que ensinam a leitura do tarot utilizam o Waite-Smith Tarot como ponto de partida (também conhecido como Rider-Waite deck, porque Rider foi a editora original; terminologia mais apropriada para homenagear a artista Pamela Smith, que parece ter criado todos os inovadores Arcanos Menores sem muitas especificações de Waite.)
O outro membro influente Golden Dawn foi Aleister Crowley.
Seu Thoth Tarot (com o nome do deus egípcio da magia), foi pintado por Lady Frieda Harris na década de 1940, mas não foi publicado até 1966. Este deck é psicologicamente muito intenso (quase ao ponto de psicodelia), bem como a obra de arte é muito abstrata e visceral. As interpretações de Crowley diferem um pouco das de Waite, mas ambas são derivadas de um quadro comum que inspira-se fortemente na Cabala Hermética, uma doutrina mística das fases através do qual as forças da criação divina descem ao plano material.
Na década de 1970, o florescimento do interesse em práticas espirituais alternativas e religiosas lançaram o Tarot a uma explosão de popularidade, e que continua até o presente momento, sem nenhum sinal de diminuir.
Muitos novos tarôs foram publicados, a maioria são adaptações do Waite-Smith Tarot (ou, por vezes, Crowley-Harris), redesenhados para refletir a sensibilidade estética ou filosofia pessoal do artista.
Assim, existem atualmente tarôs Wiccas, tarôs de nativos ameríndios, tarô das fadas, tarôs que homenageiam artistas diversos (Bosch, Blake, etc) e assim por diante.
Há ainda curiosidades, tais como Tarot dos Gatos e até um tarot em que cada carta aparece um estilo diferente de sapato.
Para conhecer melhor essas origens do tarot moderno, escrevi um artigo que poderá esclarecer alguns pontos obscuros: Tarô de Marselha
Por que foram criadas as cartas do tarô?
Nós temos uma questão deixada sem resposta, apesar de tudo.
Por que foram criadas as cartas do Tarot?
Foi simplesmente, como a evidência externa parece sugerir, um criativo jogo criado por um desconhecido artista italiano no início do século XV conforme apontam os primeiros registros? Ou, como suspeitam os ocultistas (ainda que essa hipótese seja completamente desprovida de fundamentos), um conjunto de imagens deliberadamente concebidas para descrever um complexo sistema filosófico, religioso e místico?
Os primeiros jogos sobreviveram com cartas suntuosamente pintadas à mão para uma coleção de peças feitas para o tribunal do Duque de Milão em meados do século 15. Se elas foram modeladas de forma mais mundana enquanto conjunto de cartas de jogar, as provas físicas se foram.
Robert O’Neill, em seu livro Tarot Symbolism, argumenta que o tarot foi concebido para mostrar a mística das idéias neo-platônicas e talvez da Cabala judaica que foram se tornando conhecidas na Itália daquele período renascentista, mas é mera especulação sem dados comprobatórios.
Uma peça especialmente interessante é o chamado Tarocchi de Mantegna (que não são cartas de tarot, nem o trabalho do artista renascentista Andreas Mantegna). Este conjunto de 50 fotos retrata as diversas fileiras da sociedade medieval: as Ciências Acadêmicas, as Musas, as Virtudes, o Cosmos. Muitas das imagens lembram as cartas do tarot, mas o “Tarocchi de Mantegna” era claramente destinado à edificação filosófica ao invés de jogar.
Por fim, cabe compreendermos que a história do tarô é uma janela aberta para a história da cultura europeia e da origem histórica de toda a cultura ocidental, ou seja, para a nossa história enquanto povo e civilização.
Essa janela nos leva de volta ao tempo, passando por todo o desenvolvimento cultural e filosófico da Igreja Cristã, assim como, pelas ciência herméticas originais, em parte pelo antigo gnosticismo através das práticas medievais de alquimia e astrologia e chegando ao fascínio com o oculto nos últimos séculos até o moderno e fatídico movimento da “nova era”.
Trata-se de uma vertente cultural que nem sempre é fácil de seguir por causa do sigilo e obscuridade em que muitas destas ideias viveram durante séculos.
É contudo, uma vertente cheia de falsas histórias, ofuscações deliberadas e diversas lacunas.
Por isso, fundamental manter sempre a sensatez, o bom senso e a inteligência aguçada para a pesquisa e a busca da realidade quando verdadeiramente alguém deseja se dedicar ao estudo e prática do jogo de tarô.
Desde 1998 atuando a partir da sabedoria ancestral e do misticismo da cultura cigana, em uma proposta de trabalho que visa promover o equilíbrio e o autoconhecimento dos consulentes, através da cartomancia tradicional, do tarot e do baralho cigano.